segunda-feira, 7 de dezembro de 2009


O ESTADO DA MEDIATIZAÇÃO ( “ AI, AI, AI, QUE NÃO PODE SER”)

Da memória, de quando falava e quando escrevia, manuscritos curtos, que alguns pretendiam inscrever na tipologia das crónicas…

Agora, embora escrevendo, é da mediatização, ao que venho quando chove, na cidade, e, ando de papel na mão por perto da Casa da Música, o que era espectável, porque, depois de muitos debates monotemáticos de fundo azul no ecrã, ou utilizando, velozmente, como uma ascensão do Homem–Aranha, a banda larga, esta é a situação possível.
Basicamente, no quadro da crise internacional, com o desnorte que provocou e provoca, tudo é uma questão de atitude, perante uma multiplicidade de eventos, num todo de marketing sustentado, que leva a ter confiança e a uma entrega de braços abertos, como de criança, procura de abrigo no micro e macro mundo mediáticos.

Apesar de tudo, e, ainda, um gato siamês atravessa o texto na diagonal…


José Carlos Martins
08/09/2009

Quem tem medo de Elisa Ferreira?


No rescaldo das eleições autárquicas no distrito do Porto, alguns factos de actuação política deveriam merecer uma especial reflexão dos militantes socialistas:

1. Processos disciplinares visando a expulsão de vários camaradas que, como independentes, se candidataram aos órgãos autárquicos em Matosinhos, Valongo, Stº Ildefonso (freguesia do Porto), etc.
Espera-se que a justificação estatutária destes processos não deixe margem para dúvidas, nomeadamente no direito à defesa dos "arguidos" e nas explicações, nunca antes conhecidas, sobre as deliberações (datas, procedimentos legais, votações) que conduziram à formação das listas oficiais. Espera-se também que sejam esclarecidas as razões que impediram a apresentação de listas únicas do PS. Caso contrário, tudo será visto como um processo de depuração ideológica e política, impensável num partido que fez da democracia interna a sua grande diferença em relação à restante esquerda. Será bom não esquecer que, perante a candidatura independente de Manuel Alegre à presidência da República, também houve claras tentativas de altos responsáveis partidários no sentido da sua expulsão por delito de opinião e desrespeito estatutário. Todo o articulado estatutário deve ser respeitado, e não apenas aquele artigo que "agora dá jeito" para punir os “infractores”. Quem votou nas listas dos “infractores” socialistas? Obviamente, muitos militantes socialistas! E estes, que votaram, também vão ser alvo de alguma medida estatutária? Que pena…! Não se pode!

2. Aliança de governação local, na Câmara de Matosinhos, entre o PS e o PSD. Ou seja, a lista do PS oficial alia-se com a direita (que nunca, neste município, chegou ao poder) contra a lista “independente” votada maioritariamente por militantes socialistas! Em nome de que tipo de governabilidade se pode admitir que a direita seja puxada para o exercício do poder e a outra lista de esquerda, formada e votada por socialistas, seja remetida para a oposição? Que exemplo é este?

3. Primeira reunião da Assembleia Municipal do Porto, para eleição da mesa: 27 deputados municipais da coligação PSD/CDS e 27 deputados municipais eleitos pelo PS (20), CDU (4) e BE (3). O PS propõe à CDU e ao BE uma lista alternativa à apresentada pela coligação de direita. Estes dois partidos aceitam que os seus 7 votos sejam para a lista alternativa. Votação individual secreta para o presidente: 28 favoráveis à lista do PSD/CDS e 26 favoráveis à lista alternativa.
Quem se passou para o lado de lá? Quem se quis prejudicar, com essa atitude? Por que razão não houve uma declaração de voto que justificasse tal comportamento?
A candidatura de Elisa Ferreira, pela qual se bateram muitos socialistas e independentes, parece ainda incomodar os vários aparelhos partidários portuenses, instalados na mediocridade do seu umbigo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ensino Secundário: um mundo de contradições


"Uma coisa é viver, outra é estudar." A frase, proferida por uma aluna do Ensino Secundário, espelha um sentimento emergente nas escolas

Há uma nova cultura escolar cujas manifestações vão acontecendo no quotidiano educativo. Mais ou menos perceptíveis. Uma equipa de investigadores da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto realizou um estudo entre 2002 e 2006 onde identificou alguns traços deste fenómeno. As conclusões deste trabalho aguardam publicação em livro.Trabalharam em várias escolas do Porto, e numa a 40 quilómetros desta cidade. Procuraram que as escolas estivessem em zonas ora mais ora menos "preservadas" do ponto de vista socioeconómico. E, entre os cerca de 400 alunos inquiridos, uma das percepções recolhidas foi a do "drama" que representa a passagem do 9.º ano para o Ensino Secundário. "É uma catástrofe porque há uma viragem súbita dos objectivos, das metodologias e da própria forma de estar", sintetiza Manuel Matos, investigador e coordenador deste estudo.
(Ver o texto completo aqui)
Educare.pt, Andreia Lobo 2009-10-14

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

E agora Elisa: o Porto pode continuar a contar contigo? (I)

O que é que falhou na candidatura do "Porto Para Todos"?
1. A direita soube coligar-se para defender o essencial (a continuidade do trabalho conjunto de dois mandatos) e a esquerda não. Mau grado algumas expectativas positivas criadas muito antes da campanha autárquica, em torno da defesa do Bolhão, a esquerda nem sequer conseguiu iniciar o debate sobre os projectos de cidade que cada partido defende. Falhou a capacidade dos líderes locais se entenderem sobre um programa mínimo comum.
2. Enquanto a coligação de direita teve 47, 5% para a Câmara e 44,2% para a Assembleia Municipal, a soma PS+BE+CDU teve 49,4% e 52,3%. Estes números, apesar de eloquentes sobre a vontade de mudar o governo da cidade, de nada valem perante o sectarismo partidário que as três direcções locais foram dando prova: o raciocínio, durante a campanha, continuou a ser a defesa dos estritos interesses partidários (aparelhísticos e pessoais) e a procura de crescimento eleitoral à custa de argumentos de baixa política. Rui Rio ainda não assusta suficientemente os portuenses para gerar um movimento unitário de oposição;
3. Para a Câmara, o PS teve 34,7%, a CDU 9,8% e o BE 4,9%. Para a Assembleia Municipal a distribuição do eleitorado de esquerda foi muito diferente: 33,8%, 11,0% e 7,5% respectivamente. O que quer dizer que, lucidamente, alguns eleitores da CDU e do BE votaram PS para a Câmara (mantendo-se fieis ao seu partido na eleição de deputados municipais) na expectativa de uma vitória ou, pelo menos, de impedir a maioria absoluta do PPD/CDS. O esforço desses cidadãos não foi, porém, suficiente.
4. Poucos dias antes, nas legislativas de 27 de Setembro, dentro da cidade, o PS tinha tido 36,1%. Quer isto dizer que o PS perdeu os votos de eleitores que, provavelmente abstendo-se, não gostaram de ver e ouvir os responsáveis concelhios em guerra aberta com a candidata Elisa Ferreira. Ao nível dos responsáveis locais (concelhia e juntas de freguesia), houve PS de menos e vinganças pessoais de mais.
5. A campanha da candidatura de Elisa também não está isenta de erros e omissões, nomeadamente nos domínios da condução política, da estratégia perante a comunicação social e das acções de agitação e propaganda. Mas, sendo importante para a resposta à questão colocada no título, este é um domínio a que voltaremos brevemente com um outro post.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

UM OUTONO ASSIM (VII)

O Outono não permite risos no jardim. Também não há jardim. Ficaram-me, tortos no entendimento, “os caminhos que se bifurcam e um labirinto e aquela mulher que se me deu e, ainda como no princípio do século vinte, absinto. O Outono é a minha redenção, olhando os meus pés nus de Portinari pendurado, procurando entre todos os bolsos um elemento literário. Um deles, dos bolsos, com um possível forro em cetim, furado. Enganado. O elemento literário soluçante e esganado. E, depois as nuvens, o açúcar, a pertinaz recordação da meninice, surripiado. Uma esfera, uma bola, uma espera. A mancha do sangue seco na camisa de uma guerra que chorei e lembro-me de ti. E sei que sou eu, quando, especado no sofá velho, velho compêndio de física nas mãos, digo tu. E aí quero contar-te de chacinas de sentimentos, das coninbricences lições, e de, como intuitivo, sei como a matéria se estrutura, o tempo dura, a morte irrompe calma e branca como frio quente das libertações.

José Carlos Martins
10 de Outubro 2005

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O MiCporto e as eleições para a Câmara Municipal do Porto



Desde o passado dia 28 de Setembro, o MiCporto tem realizado com regularidade várias acções de distribuição do seu apelo

"FAZER DA CANDIDATURA DE ELISA FERREIRA UMA VITÓRIA DO PORTO"

No Bolhão, em Santa Catarina, na Batalha, na Praça, as pessoas têm recebido com curiosidade e agrado o folheto que apresenta as razões do apoio do MiCporto à candidatura autárquica de Elisa Ferreira. Aí se explica que:

"(...) É chegada a hora de unir todos os portuenses que não se revêem no desgoverno da cidade e que não aceitam o desprezo e a arrogância com que hoje são tratados os bens públicos, o património histórico e humano, "as ruelas e calçadas", as instituições populares e a participação democrática dos cidadãos. Já não há paciência para aguentar mais quatro anos aqueles que gerem a cidade como uma pista de carros ou de aviões, mas que desprezam os valores históricos e culturais tripeiros. A cidade está cada vez mais despovoada, cada vez mais insegura, cada vez mais dividida entre ricos e pobres, diminuída e sem voz no contexto regional, nacional e europeu."

"(...) Por isso é urgente unir todos aqueles que se orgulham do trabalho, da ciência, da cultura, do desporto, da arte e da solidariedade social que a Invicta ainda produz.

"É urgente e é possível fazer da candidatura de Elisa Ferreira uma vitória do Porto!"

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Compromisso à Esquerda, Apelo à estabilidade governativa

"Venham mais cinco"! Venha uma praça de gente madura subscrever o apelo aos partidos da esquerda:

"Os resultados de 27 de Setembro exigem que as esquerdas se encontrem e sejam capazes de explicitar o contributo que cada um destes partidos está disposto a dar para se encontrar uma solução estável de governo. Pelo menos essa tentativa de entendimento é devida ao povo português pela forma como demonstrou a sua vontade eleitoral." (consultar o texto completo do Apelo aqui)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Apresentação do Programa de Elisa Ferreira



Apresentadas algumas propostas e medidas nalgumas áreas específicas (educação, urbanismo, cultura, etc.) amanhã, dia 29.09.2009, pelas 11.30h, é chegado o momento da candidata Elisa Ferreira apresentar o conjunto do seu programa.

Trata-se de um trabalho verdadeiramente inédito e pioneiro na forma de "fazer política", em particular ao nível autárquico: pela primeira vez, um programa de governo da cidade é elaborado de modo participativo, ouvindo os cidadãos nos seus locais de trabalho e residência, assegurando a intervenção da malha associativa da cidade, solicitando o contributo de especialistas nos diversos domínios da acção autárquica e conseguindo sintetizar todas essas contribuições.

O respeito demonstrado pela candidata relativamente aos contributos que lhe foram dados é já um sinal de uma importante vitória: a cidadania activa encontrou espaço de afirmação nesta candidatura.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O parque da cidade merecia melhor...!

Ao contrário do que quer fazer crer aos portuenses menos informados, o actual executivo camarário não tem defendido o interesse público na questão, já velha, do parque da cidade. A irresponsabilidade, a incompetência e a falta de transparência num "negócio" que vai custar muitos milhões de euros, não pode ficar impune...! O melhor castigo, para além dos tribunais, deve ser dado nas urnas! (saiba mais sobre todo o processo aqui)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

PICADA (MEMÓRIA)



Aquela casa não tinha o odor a assepsia dos hospitais convencionais. Juntava -se-lhe a mescla dos suores do sol sangrento e das lágrimas das carpideiras, no choro, no portão, em frente da estrada para Bissalanca, gargantas gastas e roucas, por vezes poucas na época das chuvas e dos enrolados trapos.

Furriel! Ó meu furriel! Ó Martins!
Do colchão, dois lençóis encardidos, seu universo de alguns meses chamava--me o André. Uma mina antipessoal, um pé, um grito, uma sina, uma dor que lhe passou a apertar a alma corporal.
Martins recebi carta de S. Mamede…da minha rapariga. A letra da ti Lena é que são só gatafunhos, se ma quisesse ler...


S. Mamede 1 de Dezembro de 1971

Meu Querido:

Cá vou passando arrimada a minha mãe. Secam-me os olhos de lágrimas. O Sr. Botelho é que teve uma recaída e anda muito ruim. A Dª Celeste é uma correria para os médicos. Mas eu só penso em ti. De dia e de noite. Mesmo quando vou abrir as poças ou acomodar o gado. Uma das cebas não vai muito bem. Nada me entretém. Não me interessa que venhas com o pé ou sem o pé. Só queria que acabasse o teu sofrer. André deves estar tão magrinho. Todos os dias rezo terços e terços e já fiz uma encomenda à Senhora de Fátima que nos há-de valer. André vais voltar para tomar conta do que é teu e vivermos os dois na casa da tia Brízida, que está lá à nossa espera. O meu coração só pensa no dia em que casarmos e formos para nossa casa. André não te esqueças de responder a esta logo na volta do correio. Mando-te os pintelhos que me pediste. Coro de vergonha. André beijo-te beijo-te e beijo-te. Espero que o nosso sofrimento termine, que voltes, logo que seja possível e, que vivamos felizes.
A que te adora
Laura


José Carlos Martins
9 de Setembro de 2009

Os eléctricos, os autocarros e o Passeio das Cardosas em 1979



"Engraxa doutor? Não! Engraxo na Baixa!"


Dão graxa...! Puxam o lustro...! Fazem chiar o pano...!
Se não chover ("Dá-me cabo do negócio") podem estar na Praça, junto às pizzas ou, do outro lado, a mandarem umas bocas ao ardina. Também páram em Campanhã (deixei de vêr lá o Rebelo...será que.....?) para cumprirem a sua missão no "calçado como deve ser" (sapatos - sapatos e não calcantes de ténis) que viaja nos pendulares. Alguns resistem nas barbearias, a meias com a manicure, mas nos cafés já não os vejo. O Piolho teve vários!
Distinguem-se pelo modo como fazem "chiar o pano". Pouco importa se são velhos ou novos, homens ou mulheres (que, na "modernização do desemprego", também chegaram à profissão...), faladores ou taciturnos, fumadores ou cancerosos. O que importa é aquele arrastar do pano contra a pele, aquele trinado exultante da graxa que se espalha e agarrra, desesperada, na pele da pele. O que importa é que, nessa batalha de superfície, o pano ganha, a graxa grita e o sapato rebrilha.

Melhorar as oportunidades para a educação e qualificação de adultos


Durante o ano lectivo de 2006/2007, de acordo com os dados oficiais, no município do Porto havia 3.068 adultos integrados nos dois únicos centros "Novas Oportunidades" (Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, com 2.0626 e Agrupamento de Escolas de Miragaia, com 442). Destes 3.068 adultos, 1.363 (44%) estavam inscritos, 567 (19%) estavam em diagnóstico, 481 (16%) estavam em processo de reconhecimento, 6 (0,2%) estavam por certificar, 208 (7%) estavam certificados, 115 (4%) foram encaminhados, 46 (1,5%) desistiram e 282 (9%) foram transferidos. No bom e no mau, estes números falam por si.
É francamente positivo que, numa cidade onde se somam o velho e o novo analfabetismo, mais de três mil adultos tenham procurado soluções pessoais e profissionais junto do programa "Novas Oportunidades". É também positivo que mais de mil e trezentos estivessem inscritos nas diversas ofertas formativas e mais uns quantos vissem os seus esforços recompensados com a certificação correspondente. Não deixa, no entanto, de causar estranheza o desequilíbrio desta rede pública: apenas dois centros, um na zona ocidental e outro na zona histórica, sendo que no primeiro eram mais de 2.000 os adultos envolvidos enquanto que no segundo, esse número era quatro vezes inferior. Cabe questionar por que razões não há oferta pública de CNOs na zona oriental, com mais população e com maiores problemas de qualificação e emprego dessa população? Será aceitável, para os interessados e para o funcionamento eficaz do sistema, deslocar as pessoas de um extremo da cidade para o outro, sobrecarregando um dos pólos e deixando o outro com frequências muito mais baixas. E, uma outra questão aqueles números suscitam: o que aconteceu aos 115 encaminhados (porquê?), aos 282 transferidos ( para onde?) e aos 46 que desistiram?

sexta-feira, 5 de junho de 2009

ÁFRICA


Fazes um esforço com os sentidos? Fixas o chão, inspiras pelo nariz e tentas experimentar, no calor de um outro mundo, o cheiro a palha em decomposição, terra misturada com excrementos de vaca magra, caju, suor…Parece absurdo mas resulta adocicado, entre o totalmente estranho e o açúcar mascavado.
Há os sapos que saem, na época das chuvas, de olhos esbugalhados, para tanto zumbido, sinfonia e opereta da desgraça humana e são calcados e são esborrachados por uma bota ou um pé nu, ou a bengala de um coxo, mudo, que os invectiva, com gestos de mão universais.
Que calor aqui está! Um calor palúdico, de arrozal, animista, cheio de deuses do bem e do mal. Sim, aqui, na página, em que ainda escrevo à mão, como se tratasse de um aerograma amarelo, a que era preciso lamber a cola, com mil cuidados, avaliando, já antanho, a qualidade da saliva. Saliva tantas vezes seca pelo medo e pela música presente, vinda não se sabe de onde, tão perto como o velho preto, com cataratas nos olhos, de carapinha rala e, que, ainda assim, continua a tentar ler o Corão. Cajado ao lado, como ele cansado, de tanto passo, de escravatura, de tanta dor.
Eu vi mães a catarem piolhos e lêndias e piolhos aos filhos bebés, mamas caídas peito abaixo, mordendo os piolhos nos dentes, não para os comer, que eram pequenos para lhes matar a fome, mas para que morressem de morte certa. Que berrassem na garganta delas, de goelas abertas, num estertor sem volta possível dos sucos do estômago e não tornassem a incomodar os seus meninos.
E matavam o tempo em espera do tempo: do tempo que fosse o tempo presente, para além dos saltos circuncoloquiais, que nas conversas com outra mulheres, era sempre um tempo um tempo de futuro, quando isto… quando aquilo...e os piolhos… e a lama na época das chuvas e a lepra e a filha bajuda e o tuga, a tabanca, e…os respeitados possuidores de uma máquina de coser, a pedal, os vendedores de banha da cobra, o arroz miúdo, os mortos de ontem (estes em surdina).

E…no sol, e nas reticências é a melhor maneira de ficar, aqui, no papel de África, lutando contra o esquecimento do Mundo e da Globalização capitalista, olhando o metafísico embondeiro, sacudir um mosquito, lutar em voos sonhadores e estar. Permanecer.

José Carlos Martins
4 de Março de 2009

Basta de pão e circo!


O circo das corridas de automóveis na Av. da Boavista já está, mais uma vez, a ser montado: barreiras, bancadas, sinalética, pinturas e toda a tralha necessária, que atrapalha quem lá passa. O pão há-de vir depois, no dia das provas, nos moletes disfarçados de "hamburgers".
Pão e circo para o povo, porque o Porto gosta, fica arregalado com tanta agitação, tanta televisão, tanta cultura! Os poucos que não gostam não recebem subsídios nem contratos. Que se mudem para Gaia ou Matosinhos... e comprem uns binóculos!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Fazer do Porto uma cidade livre de analfabetismo (II)


aqui abordámos o assunto, mas a gravidade de que se reveste nos dias de hoje impõe que voltemos a ele.
De acordo com o conceito utilizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), são analfabetos aqueles que, no momento em que foram inquiridos, declararam que não sabem ler nem escrever. Ou seja, ficam de fora do conceito todos os outros cidadãos que, muitas vezes por vergonha, declararam saber ler e escrever mas apenas sabem desenhar o seu nome ou que associam e reconhecem um determinado símbolo gráfico a um objecto ou a uma informação (como é o caso vulgar das tabuletas WC).
Obviamente, também não são considerados analfabetos os que, embora sabendo ler e escrever, não possuem qualquer grau de escolarização ou são incapazes de interpretar (dar sentido) uma notícia de jornal, um recibo da água, um destino de autocarro, uma legenda de filme, um anúncio de emprego, um cartaz do centro de saúde ou um folheto eleitoral.
Usando então o conceito nos termos precisos das estatísticas oficiais, a situação no Porto, em 2001 (ano do último recenciamento geral da população), era a seguinte em valores percentuais:
Aldoar 10,6 / Bonfim 8,7 / Campanhã 11,7 / Cedofeita 7,4 / Foz do Douro 9,3 / Lordelo 10,3 / Massarelos 8,2 / Miragaia 10,0 / Nevogilde 7,8 / Paranhos 8,9 / Ramalde 10,6 / Sto Ildefonso 8,5 / S. Nicolau 12,2 / Sé 13,6 e Vitória 11,4. A média geral é 9,7%!!!
O Porto diz-se "Cidade Educadora" mas, do ponto de vista do fenómeno, está muito longe de o ser. Antes que os números do próximo recenciamento, em 2011, nos continuem a surpreender pelo seu agravamento, importa agir e tornar real aquele desejo educador da cidade e dos cidadãos. Importa criar um programa de erradicação total e completa do analfabetismo e da iliteracia: um plano local de leitura e escrita que possa receber os apoios dos poderes central e local, das universidades pública e privadas, das colectividades populares e das fundações, das comissões de moradores e das escolas básicas e secundárias, dos sindicatos e das associações empresariais.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Grau zero da política autárquica? Não, obrigado!


Passo a passo, pé ante pé, Elisa está a construir um programa eleitoral participado por aqueles que lhe hão-de dar a vitória em Outubro.
Discutiu, com algumas especialistas, os problemas que a cidade coloca às mulheres (foto); percebeu, no rosto voluntarioso e angustiado da Rosa do Aleixo, que é preciso encontrar soluções com as pessoas que lá moram; aprofundou o conhecimento de alternativas habitacionais com a comissão de moradores da Bouça e com a Associação de Inquilinos em Sto. Ildefonso; esteve atenta às lições de vida difícil que os mais velhos lhe deram em Ramalde, no Viso, e na Pasteleira; surpreendeu-se com a enorme pujança criativa, mas "clandestina", da juventude que anima Miguel Bombarda; enfim, foi imigrante com os imigrantes nos "Maus Hábitos"!
Enquanto decorriam estes "trabalhos de casa"programáticos, os outros candidatos enervaram-se: o maior argumento político que, em uníssono, conseguiram produzir tem a vêr com o número de pés que Elisa usa para caminhar! Mau sinal! Com tanto assunto grave e urgente para debater sobre a cidade, optaram pelo grau zero da política: a tentativa de "matar" a mensageira porque a mensagem, que não lhes agrada, ganha cada vez mais força. A demagogia sobre o "estar ou não estar com os dois pés no Porto" é fácil e pode até dar alguns lucros eleitorais, mas não resiste ao exame duro das realidades: pela primeira vez vai haver um programa eleitoral genuinamente participado.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Um novo Movimento / Partido de esquerda faz ou não sentido?


Inquérito "Refundação da Esquerda"
Resultados do Inquérito
Um Novo Movimento/Partido de Esquerda em Portugal.
Faz ou não sentido?
Esta tem sido uma interrogação que tem atravessado uma parte do debate político em Portugal nos últimos tempos, sobretudo depois do sucesso bem marcado pelas candidaturas independentes de Manuel Alegre às Eleições Presidenciais e de Helena Roseta à autarquia Lisboeta e dos Encontros da Esquerda, no Teatro Trindade e na Aula Magna, nos quais muitos de nós participámos e nos envolvemos de forma cidadã.
(Extraído do Blogue de Almeirim.Veja o texto completo aqui)

"GUARDA BEM A BAILARINA"



As asas da noite e as tuas asas de mel. As asas de mel da noite e as tuas asas. Ambas negras, mesmo no cheiro, faziam beijar o céu de estrelas pontuais e raras O céu itinerante como vem nos códices de todos os homens desde o primevo hominídeo, até aos clones do futuro presente, e, do futuro dos infernos maquinais. Vieste como ave. Inquietude, solicitudes, duas aéreas catalogáveis. E apenas azul. E penas azuis caídas de uma trave. Vieste, voo do silêncio objectivado, para colher dois pares de globos oculares, envoltos em papel de jornal, encobertos como portugueses no seu sangue normal, tão rubro e tão eivado de leitura e escrita outonal. Olhos sem luz não podem viajar. Borboletas nocturnas bêbadas de água, de orvalho, cantando hip-hop, a nadar no ar. Candeeiros que o mundo amarelece na proximidade do mar. Uma desconhecida toupeira citadina. E as tuas asas, amigas, levaram os dois pares de olhos, agora enxutos pela poeira cósmica, no papel, muito atentos, esbugalhados, para um bar. O meu par de globos oculares não entendiam, em dias em que a meteorologia era diversa, o porquê das pérolas de água que me salpicarem a cara depois de fazer a barba. Fiz a barba depressa. Era em situações como essa que o par de olhos de minha mulher via por mim. Para além da visualidade, viam na interpretação, na compreensão. Fomos contigo tomar um café. Morena estavas, como morena és. Depois não foi um café… foi um chá. As cadeiras eram confortáveis para os ossos. Depois a dança do ventre. O ventre era liso e lindo. Esticado e a pedir que o tocassem devagar e, depois, mais depressa, em ritmos de sombras magrebinas, berberes. Os lenços que caíam. A vinda junto à mesa. As pestanas pesadas. Linda bailarina a dançar o próprio ventre, mais gente, sem ventre assim, vozes, vozes, tu, nós, vozes, chás e um ambiente quente. As asas da noite e as tuas asas de mel voavam o espaço todo de todos os entendimentos, perscrutavam luzes, semióticas sinalizações, mais chá, o ventre e o tempo. De repente o tempo. O que encontravas os nossos olhos não sabiam embebidos que estavam em novidades novas, vindas de longe, que tu também trazias, porque viajavas, porque sabias de almas descobertas e navios. Na rua a alguém disse: “Guarda bem a bailarina!”. E o poema ficou…e os olhos viajaram. Ficaram escondidos, atrás de uma gaveta, espaço bem modesto, com apontamentos de uma aula de filosofia, trementes, ainda assim, de bom gosto e bom senso sorridentes. Ainda é noite agora…Torna-se urgente descansar…
Como ensinava uma amiga minha, é abaixo das ondas, que as águas estão serenas…

José Carlos Martins
Outubro de 2004

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Programa Local de Habitação: um bom exemplo que vem de Lisboa


No passado dia 16 de Abril, Helena Roseta apresentou a primeira fase do Programa Local de Habitação para Lisboa.Trata-se de um conjunto de princípios e medidas que se destina a atacar sem tibiezas o problema político da contínua degradação da habitação na capital. Pelo carácter exemplar das soluções que promove e porque o Porto padece há muito dos mesmos males, importa trazer aqui alguns dos aspectos mais importantes daquele programa.
A prioridade é a reabilitação e a garantia de condições mínimas de habitabilidade em todos os fogos, em detrimento da construção de raíz. Para os bairros sociais, o princípio (político, social e técnico) é a participação dos moradores através da constituição de cooperativas de inquilinos que se comprometam com a conservação e gestão dos imóveis com recurso a medidas de incentivo baseadas na alteração da actual legislação cooperativa. Outras medidas são a criação de um seguro de renda para suportar situações de incumprimento, a criação de uma bolsa de imóveis para arrendamento (utilizando a internet) e o lançamento de um Regime Especial de Comparticipação na Recuperação de Imóveis Arrendados (RECRIA) para inquilinos, de forma a antecipar os prazos para colocar as casas no mercado (as obras passariam a ser feitas pelos inquilinos). Tudo isto será acompanhado pela criação de um fundo municipal destinado à urbanização e habitação e pela construção de hoteis sociais para receber os cidadãos cujas casas entrem em obras.
É inevitável comparar estas políticas de cidade com o que está anunciado para o Aleixo: de um lado está a preocupação com as pessoas e com as relações que estabeleceram ao longo do tempo com os seus espaços de vida e do outro lado está a preocupação com os "activos" das grandes imobiliárias. Que a cidade acorde e se indigne...!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Manifesto "BOLHÃO": o que pensam os candidatos autárquicos?

(faça click sobre a foto para saber mais)
O desafio está lançado!
A Plataforma de Intervenção Cívica do Porto promoveu no passado sábado, dia 2 de Maio, a apresentação pública do Manifesto “BOLHÃO" que, mantendo o mercado de frescos, propõe para aquele espaço um conjunto integrado e harmonioso de valências que o tornem num centro de:
. Desenvolvimento Económico;
. Desenvolvimento do Comércio Tradicional e do Turismo;
. Animação Cultural e Recreativa;
. Revitalização da “Baixa”.
Cabe aos portuenses conhecerem e pronunciarem-se sobre a proposta, mas será bom que as diversas candidaturas aos órgãos autárquicos da cidade (Câmara, Assembleia Municipal e Juntas de Freguesia) "não assobiem para o lado" e se pronunciem clara e atempadamente sobre ela, assumindo as correspondentes responsabilidades!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Trabalho, Emprego e Crise Social: que alternativas?



No passado dia 18 de Abril, o MICporto organizou no Círculo Católico de Operários um debate sobre Trabalho, Emprego e Crise Social. Foram convidados todos os partidos parlamentares, a CGTP e a UGT. Estiveram presentes representantes do BE (Alda Macedo), do PS (Jorge Strecht), do CDS (Cecília Meireles) e da CGTP (Carvalho da Silva). Não mais do que 20 pessoas participaram...! E foi pena, tão escassa assistência...! Porque o debate foi debate, caloroso, inteligível, sem truques comicieiros e num tom envolvente.
O Código Laboral foi bem defendido e bem atacado. Pela primeira vez no Porto, através de alguns dos seus principais protagonistas, foram explicados os compromissos políticos e sociais que o envolveram, foram-lhe enaltecidas as virtudes e denunciados os alçapões. Mas, mais importante do que debater o código em si, foi a possibilidade dos que lá estavam reflectirem sobre o significado actual do trabalho e do não-trabalho, num tempo de crise estrutural do capitalismo e sem alternativas à vista.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

VINTE DE MARÇO: HOJE É DIA INTERNACIONAL DA MULHER

(ANA KARINA, Vivre sa vie, J.L.Godard)



Não é? Estás a dizer-me que não é? Não é, porque entre outras questões: assediaste a mais bonita e mais bem feita das operárias da tua têxtil, que, aproveitando a conjuntura de crise te preparas para despedir em massa. E dizes que “ainda há uns filhos da p…que acham que elas deviam ganhar tanto como os homens…”.
Porque chamaste “drogada” à drogada arrumadora que te arranjou lugar, para o carro, na Praça Velásquez e, que, mesmo assim, te disse “obrigado”, com uma boca sem dentes sãos. Chegaste a casa para deglutir, “cansado” e não pudeste conversar com os teus filhos. Sentaste-te frente ao televisor e, vociferante, grunhiste que as mulheres não se deviam meter em política e muito menos ser magistradas. “Um juiz é um homem!”. Não deste um beijo à tua mulher. Não ajudaste a levantar a mesa depois de jantar e a refeição foi uma pressinha para sair de modo a “cumprir” obrigações na casa de alterne e ouvir outros a contarem como metem as mulheres deles na linha. Nem te passou pela cabeça pôr a loiça na máquina de lavar, inquirir sobre o aproveitamento escolar dos miúdos, ou saber como tinha sido o dia de trabalho dela, esboçar um sorriso, reparar nas camélias rubras.
Regressaste tarde, vinhas mal disposto. Um pouco de álcool… como um homem. Ainda assim, com ideia fixa, de “montar” a mulher que te acompanha há dezanove anos e que já dormia descansada. Não esperaste pelo orgasmo dela. Dormiste como um porco bísaro. De manhã exigiste uma camisa impecavelmente passada a ferro. Crocodilo, dos verdes!
Por tudo isto, e outras coisas mais, que, nem tu te atreves a dizer, sabes que hoje não é Dia Internacional da Mulher. E a tua mulher, a quem chamas esposa em público, fica bem, é de sociedade, chorou baixinho durante o resto da noite, sabias?

José Carlos Martins
9 de Março de 2009

Porto, cidade dual


"O esvaziamento populacional de Lisboa e do Porto e a sobrelotação dos maiores concelhos das duas Áreas Metropolitanas, associado às bolsas de pobreza concentradas nos bairros sociais, são os factores mais propiciadores da delinquência juvenil urbana.
Estima-se que, em 2011, Sintra terá uma densidade demográfica superior à da capital e o mesmo acontecerá entre Gaia e o Porto, onde um quinto da população - um em cada cinco habitantes - vive em bairros camarários.
Estes dados foram anunciados em Lisboa, sábado, por José Luís Fernandes, director do Centro de Estudos do Comportamento Desviante, da Universidade do Porto, antes do encerramento de um colóquio sobre "direitos da criança e dos jovens", promovido pelo Centro de Estudos Judiciários (CEJ) e o Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA).
O investigador salientou que o Porto é, das urbes nacionais, onde a exclusão social mais supera (em larga escala) o número de focos residenciais mais ricos, tendo 40 bairros sociais, num total de 40 mil habitantes, sem que haja equivalência com o estrato social mais favorecido."


(Parte do texto de Alexandra Marques publicado no JN de 23.04.2007 com o título "Delinquência juvenil sobe com sobrelotação e pobreza urbanas" )

É preciso alterar a configuração da rede de escolas do 1º ciclo para combater o insucesso.


A rede pública do 1º ciclo do ensino básico (antigas "primárias") continua ancorada aos critérios definidos na segunda metade do século passado. A localização das escolas é responsável por uma boa parte dos fracos resultados escolares que ao longo de décadas a cidade vem apresentando no ensino básico.
De facto, o Porto tem actualmente 55 escolas, a maioria das quais localizada no coração dos bairros sociais criados na década de 40 (1ª fase) e entre os anos 50 e 70 (2ª fase).
Concretizando a dualização social do espaço urbano promovida pelo Estado Novo através dos célebres Planos de Melhoramento, a construção destes bairros centrifugou para a periferia citadina os estratos sociais mais pobres, não só do ponto de vista económico, mas também cultural e educacional. Por outro lado, construídos sem planos de integração urbanística e viária, sem equipamentos colectivos que fossem partilhados pela população residente fora deles, sem lojas ou estabelecimentos comerciais de qualquer tipo, sem jardins e espaços de desporto e recreio, e sem transportes públicos, os bairros sociais constituiram progressivamente verdadeiros "guetos" onde se acumularam problemas de toda a ordem. À degradação física dos edifícios foram-se juntando o envelhecimento e a marginalização social dos residentes.
Não admira, pois, que, já nos anos 90, quase todos fossem considerados "zonas críticas" e, por isso, alvos de sucessivas operações de "higienização social" e de diferenciação escolar. A prová-lo está o facto de, desde então até hoje, ser neles que se concentram os Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIPs). Concebidos como instrumentos capazes de proporcionar algum sucesso educativo às crianças através da acção exclusiva da escola, dos professores e dos outros técnicos neles colocados, os TEIPs pouco conseguiram mudar. Na verdade o problema está a montante da escola, está no contexto social e urbanístico em que cada uma das escolas se insere. Só alterando a localização dessas escolas, "puxando-as" para fora dos "guetos" e, ao mesmo tempo, adoptando medidas de verdadeira qualificação e reinserção urbanística dos bairros, é que se conseguirá combater eficazmente o insucesso a que aquelas crianças estão condenadas.
Mas, para tal, é imperioso que as diversas políticas municipais deixem de estar "de costas voltadas" e se coordenem e integrem em torno de soluções partilhadas e participadas pelos residentes dos bairros.

terça-feira, 24 de março de 2009

Uma candidatura necessária

Já aqui dissémos que a apresentação pública da candidatura de Elisa Ferreira à Câmara do Porto foi um acto político muito participado, emotivo, inteligente e promissor. Vejamos as razões.
Em primeiro lugar, a participação teve a ver não só com o número elevado de presentes nesse acto, mas sobretudo com a heterogeneidade social e política dos que quiseram estar na Alfandega. Coisa rara nos dias que correm, essa heterogeneidade teve voz tanto nos discursos
formais como nas conversas informais. Autarcas do PS e ambientalistas independentes cruzavam argumentos sobre a qualidade da vida urbana ; empresários social-democratas e membros da administração pública indignavam-se com as oportunidades que a cidade tem perdido; militantes bloquistas e gente das artes insurgiam-se contra o estado deplorável da cultura citadina; comunistas conhecidos e pessoal dos bairros denunciavam o desemprego, a falta de creches e os projectos para o Aleixo.
A emoção genuina esteve presente no auto-retrato da candidata, mas também no modo como ela olha a cidade e as pessoas. Não houve lugar a fingimentos nem encenações. Aonde não chegou pela razão, chegou pela cumplicidade e pela humanidade. Trouxe para dentro do discurso político os afectos e a vontade singela de lutar por uma causa. Quando, já em tempo extra, a sala cantou o "Porto Sentido"percebeu-se que sim, que desta vez é possível.
Foi inteligente: nada de "mesas oficiais", onde o que conta é quem se senta à direita ou à esquerda, quem preside e quem fica na ponta. Decidiu o alinhamento e a duração dos discursos de forma competente. Equilibrou grupos e sensibilidades do PS com independentes e militantes de outros partidos, como nunca tinha acontecido nas anteriores apresentações de candidaturas à câmara.
E foi promissora, sem nada prometer a não ser a sua total entrega a um projecto político claro. Desde logo porque conseguiu explicar a importância de uma nova forma de fazer política para resolver os velhos problemas da cidade. Depois, porque esse objectivo exige acordar a cidadania adormecida nos "tripeiros", nas associações, na academia, nos sindicatos, nas empresas, na cultura, nas colectividades de bairro. Por fim, porque "olhos nos olhos" com o Governo, afirmou a necessidade de romper com o centralismo e o paroquialismo e pugnar por uma cidade feita por todos e para todos.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Esta cidade não é para velhos?!

Segundo o INE, em 1991 os residentes no Porto com mais de 65 anos de idade eram 41.455, ou seja, representavam 14% da população. Passados dez anos, a população em geral diminuiu mas o número de residentes idosos aumentou, passando para 47.888, ou seja, 18%. Hoje, andará à volta dos 20%.
Quer isto dizer que 1 em cada 5 portuenses tem mais de 65 anos. E a cidade, a quem deram muita da sua força de trabalho, como é que os trata? Mal...!
Desde logo na questão da habitação porque as pensões de reforma, na maior parte dos casos, não chegam para pagar obras mínimas mas necessárias (telhados, canalizações, janelas, etc.).
Depois, nas ruas, praças e jardins, onde os passeios são estreitos e irregulares, quando não estão ocupados por carros ou tapumes, os bancos são desconfortáveis e os sanitários públicos quase não existem. Fugir aos buracos e à lama é-lhes penoso no inverno. Procurar uma sombra de árvore ou um perfume de flores no verão é-lhes impossível perto de casa. Correm riscos escusados quando atravessam ruas sem passadeiras para peões, quando sobem e descem degraus gastos pelo tempo ou quando querem apanhar o autocarro. Embora gostem dele, não usam o metro porque o "andante" é complicado...
Por fim, na questão da sociabilidade, os poderes públicos locais também não querem saber deles: os centros de dia são escassos e miserabilistas, os lares permanentes caríssimos, a assistência domiciliária insuficiente e burocratizada, o acesso às unidades de saúde local difícil.
A cidade, que diz ser "educadora" e "criativa", não tem políticas integradas para a terceira idade!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Checkpoint do tema



Coloquei-me dentro de uma campânula de vidro. De média espessura. Estava à vontade. Havia luz, havia largura. E fiz jejum, principalmente de notícias e comentários, atum de lata social. Pus-me ao abrigo de intempéries emotivas, políticas, literárias e outras... são”coisas” como estranhas monções ocidentais. Também elas sazonais. Ouviam-se os velhíssimos pardais da cidade. Mas eu queria que se operasse uma mutação, onde o silêncio deixaria piar inconcretas aves dos começos da criação. Tive, no princípio, cuidado com a posição dos tornozelos...a posição devia ser, para mim, dentro da campânula, uma postura. E o silêncio foi-se fazendo, manhã dentro, nos dias a fio em que esperei resultado, despido, como quem paga uma promessa. O tema, esse não era uma questão de pressa, mas sarar uma ferida, iniciar, de lobo, uma corrida, sobre a ferida colocar uma compressa. Fora da campânula, mortais, como eu, movidos a energia, passam da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, na labuta de formigas, cegas de dia a dia, surdas de relógios, mesmo daqueles que servem para medir ócios. Nem através do vidro olhavam, não tinham tempo (que é isso do tempo? “O tempo é tudo e nada, o homem a ele igual” (1), e, se lá dentro estivesse um macaco, também não se importariam que o macaco fosse eu. Dentro da campânula podia estar uma obra prima em gesso ou decorrer um sábio congresso, as multidões não procuram tema, vivem no ouro da fome, da miragem das piscinas, e das cilindradas…muito menos de um poema
(...)
Mas, e a faceta subjectiva da situação que desencadeara? O tema como cordão que vai tecer o texto, que lhe vai, umbilicalmente, indicar um rumo, continuaria a ficar como pretexto? Até aqui, a este exacto ponto deste narrar (a vírgula), zero. Zero ou nada? Grau zero pelo menos, de uma escala que não vemos, nem sentimos como conhecimento, nem exteriorizamos como lamento. Nada portanto... por enquanto. Ainda não tinha escapado à contemplação entre o umbigo e a paisagem, ao colocar dos tornozelos e ao silêncio fast food em que se tinha constituído a situação. Banal, adaptável e consumível, ainda politicamente correcta, no movimento electrónico dos dias que iam passando, num sono acordado. Um tema. Um pesadelo. Algo que estivesse do lado certo da luta, estando, para dar uma ajudinha, leve, às trabalhadoras formigas, do lado errado. Quem sabe, no centro da espessura do vidro, na contemporaneidade constante da sua transparência, viandante da sua própria estrutura molecular. O tema devia andar no ar. Um tema... um tema tem que voar.
(...)
Fugir! Fugir, que há destino, quando queremos escrever um naco de letras com sentido, e isso constitui-se em ruído, contra a preguiça e logo à partida presunção de inutilidade. Pouco mais há acrescentar à estúpida obra da humanidade... o tema poderia só ser a procura da felicidade, no ouvir correr um regato, não metafísico, não literato...
Tinha levado comigo, para dentro da campânula, um exemplar da edição da “Antígona” de “Os livros da Minha Vida” de Henry Miller. Quando olhar através do vidro me cansava, lia e tomava notas num pequeno conjunto de papéis (não gosto de cadernos de notas com lombada). “Para o escritor, um livro é algo que se vive, uma experiência, não um plano a ser executado de acordo com leis e especificações” (pág. 15). Esta pequena frase apaziguou-me. Fiquei bêbado de um pouco de confiança. Ler, como escrever, pode embebedar. Miller embebedou-me. E, de cor (porque surgem nestes momentos estas “coisas” de cor?) nalgum sítio da minha cabeça: “o homem, pré-histórico mascarado de bom grado, em feiticeiro cornudo, entregava-se, nas cavernas, a caçadas mimadas...”. (2)
É isso, Miller, nada de planos pré-concebidos, viu-me bem dentro da minha caverna-câmpanula, mimando angústias de criação, sem ossos religiosos e outros elementos de mistificação. Quando para si deve ser ”tudo realizado com discrição com tacto e devoção”. Dizia, ainda, Miller, isto, quando discorria acerca de Dante. Acrescentava: “Faltam-me as palavras”. Como lhe podiam faltar as palavras? Porque foi quem foi e, porque de Infernos e Invernos sabia ele tudo. Nos temas, nos livros e fora deles. Principalmente, fora deles, segundo o seu próprio julgamento, na vida e no pensamento, fora deles A campânula está ficar azulada com o cair de mais uma noite eterna, dentro das cavernas do filosofar escrevente. É por estas horas, que o tema voa, se escapa, não se deixa caçar com gramáticas, dicionários, enciclopédias e, proclama, só, a singeleza, para a humanidade, do ser e do estar. Contudo há uma substância do existir em texto, nem que seja uma nova maneira de viver no silêncio, agindo na quietude das esperas. Descobre-se, então que o mundo são esferas rolantes do tempo, e, o tema, primeiro pensado, uma falaciosa ilusão. Azula-se, mais, a campânula, fecha-se um pensamento negro. Como Miller, nada de presunção. Se ninguém quiser nada com o tema, óptimo. Se o tema aparecer que eu, ou cada um, que diga o que tem a dizer... Óptimo.
(...)
Começa a soprar uma brisa do Norte, mesmo feita em Portugal. Aventureira, cobre tudo de uma limalha de cobre, cor e textura adequadas para a busca da concisão. Aventureira porque não faz escolhas. Vive, espalhando limalha de pensamentos e a espalhar, também, uma lúcida confusão. E ainda ouço, Miller que estive a ler: “Uma das poucas recompensas que um autor obtém pelos seus esforços é a conversão de um leitor num amigo pessoal e caloroso.”. E, lembro-me, por aquilo que posso ter vivido que não há tema ou texto que resista à traição, de si, pela sua própria construção. Assim o que valha a pena talvez seja o aperfeiçoamento e a superação na nitidez do dizer. Como Miller, passe a imodéstia, assim penso que pode e deve ser. Saio da campânula. Estou calmo no julgamento e consequente nos propósitos para o combate. Sinto-me um velho Cavaleiro paisagem fora, dentro de uma tela de Magritte, levo um escudo e uma flâmula vermelha.... o tema... Depois de vencida a distância, o tema, é, só um checkpoint...lá toma-se uma bebida quente, de rebentamentos e sons sincopados de automáticas armas...é a Globalização? Veja Henry Miller, tanto livro, tanto tema, e a humanidade ainda não conseguiu a libertação!



José Carlos Martins
Inverno 2005



Bibliografia:

(1) “Pensamentos sobre o tempo”, Paul Fleming, “O Cardo e a Rosa - Poesia do Barroco Alemão (antologia)
(Tradução de João Barrento)
(2) “As religiões da Pré-História”, André Leroi-Gourhan, Prespectivas do Homem, Edições 70
(3) “Os livros da minha vida”, Henry Miller, Antígona

sexta-feira, 6 de março de 2009

Castanhas e conversas "p'raquecer"

Mãos calejadas e hábeis embrulham-nas nas folhas de revista que as conservam quentes e boas. São esbranquiçadas, com tons de azul e prata, por cima do castanho-escuro que lhes deu o nome. É como se estivessem maquilhadas e perfumadas por um fino "pó de-arroz" que as torna desejáveis...! Estão nas esquinas mais movimentadas, nas saídas do metro, à porta do Sto. António ou no Marquês. Anunciam-se sem alarde: ainda não as vemos e já lhes sentimos o cheiro inconfundível!
Nos carrinhos ou nas bancas, os que as "fabricam" já foram operários de outras fábricas, oficiais de outros ofícios. Hoje, guardadores de memórias que alimentam a conversa sem pressas, são também artistas de uma arte de que a ASAE não gosta...!

Os "eléctricos" de há 30 anos

Subiam e desciam os Clérigos na aventura de ligar as gentes de Pereiró, de Monte dos Burgos ou do Ameal. O "20" e "21" entonteciam na enésima volta, sempre igual mas sempre diferente, entre o Marquês e a Rotunda. Outros apanhavam ar do Infante até à Foz ou espreguiçavam-se manhã cedo na Ponte da Pedra. Conviviam, paredes meias, com o Sto. António e o Maria Pia, com o Bom Sucesso e o Bolhão, com o Alexandre Herculano e o D. Manuel, com o Bessa e o Vidal Pinheiro, com a Lapa e o Bonfim. Prisioneiros dos trilhos, atrapalhavam-se com o trânsito, com os putos e com as ladeiras. Democráticos, a troco de algumas "croas", acolhiam homens de letras e analfabetos, trolhas e engenheiros, velhos e catraios, morcões e passarões. Cumpriam escrupulosamente a sua função social: ligavam os lugares, juntavam as pessoas, cerziam as relações, transportavam sonhos e teciam a cidade.
Passados trinta anos, cheios de "liftings", voltaram, mas já não juntam nada nem ninguém!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O Bolhão e a escolha de Elisa

Na passada quinta-feira, 19 de Fevereiro, Elisa Ferreira apresentou-se ao Porto como candidata à Câmara Municipal. A sessão, que decorreu na Alfândega, foi muito participada, emotiva, inteligente e promissora. Em próximos posts se justificará cada uma destas características.

Por agora, interessa relevar que o primeiro passo público da pré-campanha foi dado anteontem, numa pausada visita de trabalho ao Bolhão, sem a presença da comunicação social, para ouvir directamente as pessoas. Não foi por acaso. Por um lado, a candidata cumpriu um desejo manifestado pelos vendedores e comerciantes, há quase um ano, num debate promovido pelo MICporto, realizado nos Fenianos, e que contou com a presença de representantes do PCP, do BE e do PS. Por outro lado, escolheu um espaço simbólico: em torno da defesa e requalificação daquele património arquitectónico e humano é possível unir simpatizantes daqueles partidos, mobilizar muitos independentes, recolher 50.000 assinaturas e demonstrar que a resistência cívica e o associativismo não foram vencidos pela obsessão privatística municipal.

Se este exemplo de participação e unidade genuínas em torno do Bolhão pode apontar novos horizontes aos outros "bolhões" da cidade (Mercado do Bom Sucesso, Palácio de Cristal, Praça de Lisboa, Museu da Indústria do Freixo, Bairro do Aleixo, etc.), a escolha de Elisa também pode representar a mudança necessária para o Porto.

Dualização social e níveis de escolarização dos portuenses

(faça click sobre o gráfico para o ver melhor)
Já aqui nos referimos à elevada percentagem de analfabetismo como traço significativo da população portuense. Se um tal facto é, por si só, inaceitável nos tempos que correm, maior é a indignação quando constatamos que um em cada quatro residentes tem como nível máximo de escolarização apenas o 1º ciclo do ensino básico (antiga escola primária).
A análise por freguesias dos níveis de escolarização reforça aquilo que já tínhamos concluído a propósito do analfabetismo: para uma parte significativa da população, os locais de residência marcam os limites de acesso a níveis mais elevados de educação.
Dois pares de exemplos bastam para para tirarmos esta ilacção! Comparemos as "estruturas escolares" de, por um lado, Campanhã e Cedofeita e, por outro lado, Bonfim e Nevogilde:
Campanhã apresenta-se como uma pirâmide direita, de base larga (1º ciclo - 34%; 3º ciclo - 14%; ensino secundário - 11%; licenciatura - 4%) enquanto Cedofeita representa quase um cilindro (1º ciclo - 20%; 3º ciclo - 15%; ensino secundário - 19%; licenciatura - 14%). Bonfim é também uma pirâmide direita, embora mais "achatada", ou seja, com diferenças menos acentuadas que Campanhã (1º ciclo - 24%; 3º ciclo - 15%; ensino secundário - 17%; licenciatura - 10%) ao passo que Nevogilde se apresenta como uma pirâmide invertida (1º ciclo - 12%; 3º ciclo - 12%; ensino secundário - 21%; licenciatura - 22%).
Chegaríamos a disparidades idênticas se a comparação fosse feita entre Miragaia (ou qualquer outra das freguesias do centro histórico) e Foz do Douro, ou entre Aldoar e Massarelos.
De tudo isto se pode concluir que a dualização urbana e social, provocada nas décadas de 60 e 70 pela deslocação compulsiva para os grandes bairros camarários de Aldoar, Ramalde, Campanhã e Paranhos, da população trabalhadora que anteriormente habitava nas freguesias do centro histórico e nas vizinhas, ainda se mantém (e reforça) , mas agora em estreita relação com as desigualdades no acesso a níveis mais elevados de escolarização. A consequência mais dramática de tudo isto é a repercussão do "fenómeno" junto das crianças e jovens que hoje estão em idade escolar.
Na medida em que esta questão é crucial para compreendermos a relação da cidade com a educação, voltaremos a abordá-la mais em detalhe em próximos posts.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Ouvir as árvores



Joana sabia que a árvore estava a gritar.
Vinha, a moça, pequenina de estatura, de uma longa estirpe celta, de druídas das florestas. Da procura do musgo, dos remédios, das tisanas e das curas. Da procura do bem e da luta contra as causas obscuras.
A floresta estava-lhe no corpo esguio…mata plantada de pequenas ervas rasteiras, onde aparecem buracos curiosos e curiosas toupeiras, crescem arbustos ásperos…até árvores de folhagem perene, espaçadas e serenas, exibindo o porte frágil.
Naquela tarde, quente, de exercícios e simulações, pequenas palestras e instruções… e o vai e vem “das formigas no carreiro”, levando sementes para o formigueiro…Tudo parecia resumir-se ao silêncio de uma brisa…
E, a moça ouvia a árvore, muito nova, gritar:
- Joana, este ano, quero crescer e o infinito alcançar! Não posso arder, ninguém me pode queimar!

Carinhosamente, ao fim da tarde, Joana deixou o seu capacete vermelho, dos voluntários, junto ao pé daquela árvore para a marcar e proteger. Os bons espíritos verdes, de prevenção na floresta, iriam entender…


19 de Maio de 2006
José Carlos Martins

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

É preciso que o sistema responda! Qual sistema...?


Os cínicos, sorrindo, dizem que "eles" dormem ao relento porque gostam, "estão cheios de álcool e até já não sentem o frio!". Os senhores de posição abanam a cabeça lateralmente, da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, repetidas vezes, com um ar sério e indignado e exclamam alto para as suas senhoras: "Parece impossível! Isto não devia ser permitido! Este espectáculo no centro da cidade e a polícia não faz nada!". As beatas, a medo, pé-ante-pé, abeiram-se, sussurram, deixam uma moeda de 0,50 € junto da mochila sem fazer ruído não vão "eles" acordar, benzem-se, suspiram e decidem : "Coitadinhos...!". A rapariguinha do shopping, petulante e apressada, passa perto, franze o nariz mas não tira os ouvidos do telemóvel-último grito! Os militantes da sopa dos pobres já "os" conhecem e explicam: "São as estruturas, pá! É o sistema que não responde, pá!. Isto, com a crise e o desemprego, vai piorar, pá!"
E, enquanto o frágil sol matinal de Janeiro "lhes" aquece as mãos, o manto diáfano da PORTO Lazer, E.M., abriga-os da nortada gelada.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Fazer do Porto uma cidade livre de analfabetismo

Apesar de o analfabetismo ter diminuído em Portugal 17% nos últimos 30 anos, em 2001, segundo o INE, o número de analfabetos estava nos 9%, sendo a repartição entre homens e mulheres bastante diferente (11,5% para as mulheres contra 6,3% para os homens).
Na cidade do Porto, para além desta desigualdade de género face "ao saber ler e escrever", uma outra era, e continua a ser, eloquente: a que se reporta aos locais (freguesias) de residência.
O município tem uma média global de 4,79% de analfabetos, mas no seu interior as percentagens variam entre um mínimo de 1,50% em Nevogilde e um máximo de 8,81% na Sé. O mapa mostra que as cinco freguesias do centro histórico e a freguesia mais oriental (Campanhã), com valores superiores a 5%, representam a zona urbana onde menos se fizeram sentir os benefícios da educação e da escolarização.Mas não só: é nessa zona que "mora" a velhice solitária, a pobreza assistida pelas IPSS, o desemprego sem subsídio, a má habitação, a falta de planeamento urbano...
No outro extremo estatístico e social, as freguesias de Nevogilde, Foz do Douro, Massarelos e Cedofeita, com valores inferiores a 4%, representam a zona de elevado capital educativo e cultural acumulado ao longo de várias décadas.
No meio, entre os 4% e os 5%, estão as freguesias de Aldoar, Lordelo do Ouro, Ramalde, Paranhos e Bonfim, onde coexistem gerações, emprego e desemprego, velhos e novos bairros sociais, traços de ruralidade e símbolos maiores da modernidade. É aí que pontificam os divergentes destinos escolares e sociais da maioria das crianças, jovens e adultos da cidade.
Se a história da cidade explica, em parte, este quadro desolador, é às políticas públicas locais e centrais que se tem de exigir as explicações que faltam. É, também, ao associativismo e aos privados que se tem de perguntar o que têm feito. Mas não basta conhecermos os nós do problema. É urgente tornar o Porto uma cidade livre de analfabetismo!
Voltaremos a este assunto em próximos "posts"

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Um ano de luta em defesa do Mercado do Bolhão

Sobretudo para aqueles que trabalham diariamente no, e para, o Mercado do Bolhão, o ano de 2008 vai ficar marcado, nas suas histórias de vida, como um ano para recordar. Ameaçados de expulsão por um projecto camarário que visava transformar o mercado em mais um "shopping" sem rosto nem alma, os vendedores e comerciantes ousaram resistir, souberam organizar-se, apresentaram alternativas e conseguiram vencer as sucessivas batalhas. O processo, em que a defesa dos seus interesses e direitos tem sido exemplar, só terminará quando a requalificação dos espaços, a segurança do edifício, o financiamento da obra e o modelo de gestão estiverem concretizados.
Mas este processo não é exemplar apenas para os vendedores e comerciantes. É-o também para a própria cidade e para os portuenses em geral. Por várias razões: porque tem sido capaz de despertar "o inconsciente colectivo" para a urgência da defesa do património histórico-cultural ameaçado; porque tem demonstrado, na prática, a possibilidade de congregar apoios e unir organicamente as pessoas em torno de objectivos claros e escrutinados; porque tem provado que o poder dos cidadãos não se esgota nas eleições.
(para conhecer o balanço e as perspectivas do processo, clique aqui)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Porto, os espaços públicos e a publicidade desproporcionada

Há algumas semanas, a Câmara Municipal (tra)vestiu-se.

Provavelmente até foi um bom negócio para ambas as partes! A empresa paga a "lavagem de cara" do edifício mas, ao mesmo tempo, consegue o melhor espaço publicitário da cidade.
Tal e qual como na nova Rotunda azul, no Palácio das Cardosas e na Rua das Flores, a Câmara poupa uns milhares de euros (quantos?) e, assim, pode investi-los para, por exemplo, construir o Jardim de Infância da Vitória!
Mas..., onde fica o direito do cidadão portuense, ou de quem nos visita, a não ser incomodado (ainda que por "pouco tempo") por mensagens publicitárias que ferem a vista tanto como os estrondos de pedreira ferem os ouvidos?
Não está em discussão a necessidade de preservar os edifícios públicos e monumentos. Para isso pagamos impostos. Tão pouco está em causa a segurança de quem trabalha e de quem se desloca junto das obras. Por isso se aceita como boa solução o recurso às grandes superfícies de telas de protecção e aos tapumes, aos avisos e às barreiras.
O que está em causa é a "espertice" de considerar aquele espaço visual como oportunidade de negócio, é a transformação intencional e sistemática dessas superfícies, que cobrem espaços públicos, em mais lixo publicitário que polui, engana, deseduca e ofende. Aqui, ao contrário da televisão, não se pode mudar de canal!
Ao invés, seria marca de cidade criativa e educadora se essas grandes superfícies fossem aproveitadas para intervenções de arte efémera ou para testemunhos preserváveis do estado anterior dos edifícios agora requalificados.