sexta-feira, 3 de abril de 2009

É preciso alterar a configuração da rede de escolas do 1º ciclo para combater o insucesso.


A rede pública do 1º ciclo do ensino básico (antigas "primárias") continua ancorada aos critérios definidos na segunda metade do século passado. A localização das escolas é responsável por uma boa parte dos fracos resultados escolares que ao longo de décadas a cidade vem apresentando no ensino básico.
De facto, o Porto tem actualmente 55 escolas, a maioria das quais localizada no coração dos bairros sociais criados na década de 40 (1ª fase) e entre os anos 50 e 70 (2ª fase).
Concretizando a dualização social do espaço urbano promovida pelo Estado Novo através dos célebres Planos de Melhoramento, a construção destes bairros centrifugou para a periferia citadina os estratos sociais mais pobres, não só do ponto de vista económico, mas também cultural e educacional. Por outro lado, construídos sem planos de integração urbanística e viária, sem equipamentos colectivos que fossem partilhados pela população residente fora deles, sem lojas ou estabelecimentos comerciais de qualquer tipo, sem jardins e espaços de desporto e recreio, e sem transportes públicos, os bairros sociais constituiram progressivamente verdadeiros "guetos" onde se acumularam problemas de toda a ordem. À degradação física dos edifícios foram-se juntando o envelhecimento e a marginalização social dos residentes.
Não admira, pois, que, já nos anos 90, quase todos fossem considerados "zonas críticas" e, por isso, alvos de sucessivas operações de "higienização social" e de diferenciação escolar. A prová-lo está o facto de, desde então até hoje, ser neles que se concentram os Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIPs). Concebidos como instrumentos capazes de proporcionar algum sucesso educativo às crianças através da acção exclusiva da escola, dos professores e dos outros técnicos neles colocados, os TEIPs pouco conseguiram mudar. Na verdade o problema está a montante da escola, está no contexto social e urbanístico em que cada uma das escolas se insere. Só alterando a localização dessas escolas, "puxando-as" para fora dos "guetos" e, ao mesmo tempo, adoptando medidas de verdadeira qualificação e reinserção urbanística dos bairros, é que se conseguirá combater eficazmente o insucesso a que aquelas crianças estão condenadas.
Mas, para tal, é imperioso que as diversas políticas municipais deixem de estar "de costas voltadas" e se coordenem e integrem em torno de soluções partilhadas e participadas pelos residentes dos bairros.

Sem comentários:

Enviar um comentário