Não é? Estás a dizer-me que não é? Não é, porque entre outras questões: assediaste a mais bonita e mais bem feita das operárias da tua têxtil, que, aproveitando a conjuntura de crise te preparas para despedir em massa. E dizes que “ainda há uns filhos da p…que acham que elas deviam ganhar tanto como os homens…”.
Porque chamaste “drogada” à drogada arrumadora que te arranjou lugar, para o carro, na Praça Velásquez e, que, mesmo assim, te disse “obrigado”, com uma boca sem dentes sãos. Chegaste a casa para deglutir, “cansado” e não pudeste conversar com os teus filhos. Sentaste-te frente ao televisor e, vociferante, grunhiste que as mulheres não se deviam meter em política e muito menos ser magistradas. “Um juiz é um homem!”. Não deste um beijo à tua mulher. Não ajudaste a levantar a mesa depois de jantar e a refeição foi uma pressinha para sair de modo a “cumprir” obrigações na casa de alterne e ouvir outros a contarem como metem as mulheres deles na linha. Nem te passou pela cabeça pôr a loiça na máquina de lavar, inquirir sobre o aproveitamento escolar dos miúdos, ou saber como tinha sido o dia de trabalho dela, esboçar um sorriso, reparar nas camélias rubras.
Regressaste tarde, vinhas mal disposto. Um pouco de álcool… como um homem. Ainda assim, com ideia fixa, de “montar” a mulher que te acompanha há dezanove anos e que já dormia descansada. Não esperaste pelo orgasmo dela. Dormiste como um porco bísaro. De manhã exigiste uma camisa impecavelmente passada a ferro. Crocodilo, dos verdes!
Por tudo isto, e outras coisas mais, que, nem tu te atreves a dizer, sabes que hoje não é Dia Internacional da Mulher. E a tua mulher, a quem chamas esposa em público, fica bem, é de sociedade, chorou baixinho durante o resto da noite, sabias?
José Carlos Martins
9 de Março de 2009
Porque chamaste “drogada” à drogada arrumadora que te arranjou lugar, para o carro, na Praça Velásquez e, que, mesmo assim, te disse “obrigado”, com uma boca sem dentes sãos. Chegaste a casa para deglutir, “cansado” e não pudeste conversar com os teus filhos. Sentaste-te frente ao televisor e, vociferante, grunhiste que as mulheres não se deviam meter em política e muito menos ser magistradas. “Um juiz é um homem!”. Não deste um beijo à tua mulher. Não ajudaste a levantar a mesa depois de jantar e a refeição foi uma pressinha para sair de modo a “cumprir” obrigações na casa de alterne e ouvir outros a contarem como metem as mulheres deles na linha. Nem te passou pela cabeça pôr a loiça na máquina de lavar, inquirir sobre o aproveitamento escolar dos miúdos, ou saber como tinha sido o dia de trabalho dela, esboçar um sorriso, reparar nas camélias rubras.
Regressaste tarde, vinhas mal disposto. Um pouco de álcool… como um homem. Ainda assim, com ideia fixa, de “montar” a mulher que te acompanha há dezanove anos e que já dormia descansada. Não esperaste pelo orgasmo dela. Dormiste como um porco bísaro. De manhã exigiste uma camisa impecavelmente passada a ferro. Crocodilo, dos verdes!
Por tudo isto, e outras coisas mais, que, nem tu te atreves a dizer, sabes que hoje não é Dia Internacional da Mulher. E a tua mulher, a quem chamas esposa em público, fica bem, é de sociedade, chorou baixinho durante o resto da noite, sabias?
José Carlos Martins
9 de Março de 2009
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