quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Dualização social e níveis de escolarização dos portuenses

(faça click sobre o gráfico para o ver melhor)
Já aqui nos referimos à elevada percentagem de analfabetismo como traço significativo da população portuense. Se um tal facto é, por si só, inaceitável nos tempos que correm, maior é a indignação quando constatamos que um em cada quatro residentes tem como nível máximo de escolarização apenas o 1º ciclo do ensino básico (antiga escola primária).
A análise por freguesias dos níveis de escolarização reforça aquilo que já tínhamos concluído a propósito do analfabetismo: para uma parte significativa da população, os locais de residência marcam os limites de acesso a níveis mais elevados de educação.
Dois pares de exemplos bastam para para tirarmos esta ilacção! Comparemos as "estruturas escolares" de, por um lado, Campanhã e Cedofeita e, por outro lado, Bonfim e Nevogilde:
Campanhã apresenta-se como uma pirâmide direita, de base larga (1º ciclo - 34%; 3º ciclo - 14%; ensino secundário - 11%; licenciatura - 4%) enquanto Cedofeita representa quase um cilindro (1º ciclo - 20%; 3º ciclo - 15%; ensino secundário - 19%; licenciatura - 14%). Bonfim é também uma pirâmide direita, embora mais "achatada", ou seja, com diferenças menos acentuadas que Campanhã (1º ciclo - 24%; 3º ciclo - 15%; ensino secundário - 17%; licenciatura - 10%) ao passo que Nevogilde se apresenta como uma pirâmide invertida (1º ciclo - 12%; 3º ciclo - 12%; ensino secundário - 21%; licenciatura - 22%).
Chegaríamos a disparidades idênticas se a comparação fosse feita entre Miragaia (ou qualquer outra das freguesias do centro histórico) e Foz do Douro, ou entre Aldoar e Massarelos.
De tudo isto se pode concluir que a dualização urbana e social, provocada nas décadas de 60 e 70 pela deslocação compulsiva para os grandes bairros camarários de Aldoar, Ramalde, Campanhã e Paranhos, da população trabalhadora que anteriormente habitava nas freguesias do centro histórico e nas vizinhas, ainda se mantém (e reforça) , mas agora em estreita relação com as desigualdades no acesso a níveis mais elevados de escolarização. A consequência mais dramática de tudo isto é a repercussão do "fenómeno" junto das crianças e jovens que hoje estão em idade escolar.
Na medida em que esta questão é crucial para compreendermos a relação da cidade com a educação, voltaremos a abordá-la mais em detalhe em próximos posts.

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